


DANI OLIVEIRA | ENTREVISTA
Nascida em Jundiaí, no interior de São Paulo, tem 24 anos atualmente. Publicou seu primeiro livro aos 18 anos, mas escreve contos e poemas desde sua alfabetização. Adora dar vida a pensamentos absurdos e histórias criativas. Formada em Letras e Teologia, atua como professora de redação.
autora do livro Clarice.
Ao olhar-se dentro de si, por qual motivo a sua obra foi escrita? O que você gostaria de dizer ao mundo com ela?
Ao pensar e escrever Clarice, eu queria falar sobre amadurecimento e amor. Por vezes, é difícil transitar por fases importantes de nossa vida (da infância para adolescência, adolescência para juventude, juventude para vida adulta); tendemos a achar que precisamos abrir mão de parte de quem somos para conseguir amadurecer e seguir em frente. Com a ajuda de Clarice, eu gostaria de trazer a mais simples reflexão: não é possível viver a vida sem infortúnios, e não é preciso passar por eles sem otimismo. Junto com o amadurecimento, queria contar sobre como os diferentes tipos de amor florescem em nós, de acordo com a fase que vivemos. Clarice entende e ensina que cada parte da vida precisa ser amada com igual cuidado.
Há alguma curiosidade sobre a sua obra? Por exemplo, quando você começou a escrevê-la? E quando terminou?
A coisa mais curiosa sobre este livro foi o seu nascimento. Ganhei uma máquina de escrever de uma amiga. Escrevia algumas vezes, mas não era um hábito. Em um dia, quando troquei a tinta, fui testar se estava funcionando e datilografei sobre um belo dia de verão. A história me comprou e não consegui mais parar. Escrevi Clarice por bons três anos, parando e continuando, sempre interrompendo por conta da maldita vida adulta. Escrevo histórias desde os 8 anos de idade. O primeiro livro foi produzido aos 13 anos.
O que o inspira a escrever? Existem temas ou experiências pessoais que a influenciam mais?
Eu amo escrever. Não existe maneira mais íntima e pessoal de colocar os seus sentimentos, e adivinhar os dos outros, do que através das letras! Acredito que a vida possa ser enxergada por olhos muito mais gentis, esperançosos, e, quem sabe, delirantes; e as palavras são a arma perfeita para juntar corações partidos, levantar cabeças tombadas e encorajar almas medrosas. Eu nasci e vivo em uma periferia. Meus pais e parentes sempre tiveram pouca instrução acadêmica e pouco hábito de leitura. Depois que produzi minha primeira obra, ouvi o contentamento de minha tia, exibindo o livro por aí; meu pai fazendo propaganda deste maravilhoso feito; meu avô levando o livro para mostrar pela cidade; os vizinhos mal acreditando que alguém de um lugar como esse pudesse escrever e publicar um livro. Eu escrevo por isso. Porque a leitura é democrática e o conhecimento é libertador; escrevo para que todos, dos menos letrados aos mais cultos, possam ler e se encontrar em mim, possam saber que eles têm voos muito mais altos para alçar.
Qual é o seu processo de escrita? Como ele acontece? Você tem um escritório ou espaço específico para isso?
Tenho um espaço próprio para isso em meu quarto, mas sempre acabo me sentando na cama ou no sofá para escrever. Geralmente parto de um detalhe, e construo o resto da história a partir dali. Em um caso, pensei no conceito de felicidade, entrevistas a pessoas e o que elas achavam sobre o tema, e dali tirei tudo: as personagens, o enredo, o conceito etc. Em outro caso, tirei tudo depois de descrever um dia de verão e pensar uma personagem que passasse o mesmo sentimento que a estação. Procuro criar uma linha básica de raciocínio: onde estou, por onde passo e onde quero chegar. Não planejo demais, porque o planejamento trava todas as minhas ideias espontâneas e naturais. Uma questão inevitável, que maltrata minha saúde, é que sou muito criativa durante a noite.
Nos conte um pouco sobre você! Sobre o que você gosta de fazer, o que você estuda ou estudou, os seus hobbies...
Eu sou formada em Letras - português e inglês, e em Teologia. Dou aulas de redação. Sou completamente apaixonada por cultura geek. O mais clichê mesmo: Star Wars, super-heróis, histórias em quadrinhos, Harry Potter, O senhos dos anéis etc. Gosto de me envolver e arriscar vários tipos de arte. Já atuei, fotografo, escrevo muitos poemas, costumava cantar em corais e tocar teclado, desenho bastante (só não me peça para dançar). Em tempo livre tendo a ler, escrever, ver filmes e séries geeks (ou aqueles romancezinhos dos anos 1990), assistir a espetáculos de dança ou concertos musicais, passear por parques ou cafeterias. Cuido da minha coleção de plantas e coleciono fotos analógicas.
Quais são as maiores dificuldades no mundo da escrita atualmente, na sua visão?
Acredito que a parte mais difícil para o escritor vem após a escrita. O movimento de encontrar plataformas dispostas a ajudar e orientar a publicação é difícil. Com o movimento de banalização de produção de conteúdo que algumas redes sociais e influenciadores praticam, pode haver dificuldade de reconhecimento e conquista de espaço por escritores sérios.
Como você acredita que a literatura pode impactar a sociedade ou a vida das pessoas?
A literatura muda tudo. Ela documenta o presente, expõe situações, protesta, informa, desafoga; e, da mesma maneira, inventa, renova, prevê e fantasia. A literatura é a porta de entrada para o conhecimento de si e do mundo. Ela liberta.
Se pudesse dar um conselho a escritores iniciantes, qual seria?
Tenha coragem. Coragem para se expor, coragem para lutar pelo seu espaço, coragem para compartilhar seu íntimo, coragem para ouvir o que não quer, coragem de errar, coragem de ser livro em um mundo de 280 caracteres.
